A Plastval e o “dia sem sacos de plástico”
A iniciativa do “dia sem carros” foi uma oportunidade para promover a redução do tráfego automóvel urbano e das consequentes emissões para a atmosfera, destacando a necessidade de alternativas mais sustentáveis de mobilidade urbana. Os promotores da ideia do “dia sem sacos” estão num registo diferente. O objetivo é a proibição e ou a taxação generalizada dos sacos de plástico, independentemente da sua espessura.
A proposta é irresponsável. Desde logo, porque insiste no erro cometido há cerca de dois anos quando o governo decidiu tributar os sacos de compras com espessura inferior a 50 µm (micrómetros ou “mícrons”). Os resultados estão à vista. Os sacos de plástico leves praticamente deixaram de ser usados. A receita fiscal é irrelevante. Os consumidores passaram a usar sacos de outros tipos. Desde logo, sacos com espessura acima de 50 µm, reutilizáveis e recicláveis, fabricados em Portugal. Os hipermercados passaram a vender sacos reutilizáveis mas não recicláveis, importados da Ásia. Em termos globais, a quantidade de plástico colocada no mercado sob a forma de sacos aumentou (por simples efeito do aumento da espessura). Porém, a reciclagem de sacos de compras (que estava em tendência ascendente até 2015) não aumentou. Pior ainda, o aumento da reutilização passou a ocorrer em boa parte à custa da reciclagem. Antes, os sacos eram reutilizados e, finalmente, reciclados. Hoje, a maior parte dos sacos reutilizáveis (sobretudo os que são vendidos pelos hipermercados) não são recicláveis. A medida governamental baseou-se em dados errados e, dois anos volvidos, qualquer análise minimamente séria evidencia os efeitos negativos – ambientais e económicos.
Existe alternativa à proliferação de sacos de plástico. Essa alternativa passa pela utilização racional, pela reutilização, pela separação e pela reciclagem. A utilização racional pode ser induzida se a cada saco for associado o seu valor. A reutilização pode ser induzida pela espessura, para que o saco possa ser usado várias vezes sem romper. Mas não é necessário impor a espessura de 50 µm. Cerca de metade é suficiente. A separação pode ser induzida por informação que levem os consumidores a depositar os sacos usados nos ecopontos ou por sistemas mais avançados de depósito/reembolso (uma solução com êxito assinalável em numerosos países para a recolha de garrafas). Ambas as soluções têm um denominador comum – o cidadão. Sendo a separação e deposição seletivas atos voluntários, é fundamental a contínua mudança de atitudes e comportamentos, crucial para uma “verdadeira” economia circular. Por outro lado, a reciclagem pode ser induzida com sacos monomaterial, reduzida carga de tinta ou coloração e sistemas de recolha e triagem que minimizem a contaminação.
A PLASTVAL é a favor de todas as iniciativas que promovam o uso racional dos recursos, a redução efetiva da poluição e o aumento da reciclagem de plásticos. Mesmo que sejam mais difíceis de implementar e desenvolver. A verdade é que o País tem capacidade de reciclagem de plásticos excedentária e conta com indústrias recicladoras bem equipadas e que antecipam a economia circular com a produção de reciclados de qualidade, com valor acrescentado e relevância crescente nas exportações.
Lisboa, 03 de Julho de 2017